Emmanuel Nunes recebe hoje Prémio Pessoa

Foto
Emmnuel Nunes venceu o galardão pela "originalidade, criatividade e coerência no percurso" Pedro Cunha

O compositor Emmanuel Nunes recebe hoje, no Palácio de Queluz, o Prémio Pessoa, um dos mais importantes galardões culturais e científicos portugueses. O júri, presidido por Francisco Pinto Balsemão, escolheu Emmnuel Nunes pela "originalidade, criatividade e coerência" do percurso do compositor.

Pinto Balsemão elogiou ainda Emmnuel Nunes, considerando-o o "expoente máximo da música contemporânea portuguesa".Faziam também parte do júri a jornalista Clara Ferreira Alves, o escritor António Alçada Baptista e os musicólogo e crítico de música Rui Vieira Nery.
O galardão, com o valor pecuniário de 8.500 contos (42 mil euros), será entregue hoje no Palácio de Queluz, na presença do Presidente da República, Jorge Sampaio, que se declarou admirador pessoal do galardoado desde os tempos de estudante, quando foram colegas.
Também José Sasportes, ministro da Cultura, considerou a atribuição do Prémio Pessoa 2000 a Emmanuel Nunes um "justíssimo enaltecimento a uma personalidade da cultura contemporânea".
"A sua obra tem reconhecimento em toda a Europa e, em Portugal, esta distinção, que tardava, vem associar-se à crescente difusão do seu trabalho como compositor. O Prémio Pessoa será a caixa de ressonância que levará o nome e a obra de Emmanuel Nunes a um vasto público", afirmou à Lusa José Sasportes, no dia 15 de Dezembro, quando o vencedor foi anunciado.
Rui Vieira Nery, membro do júri, considerou também que a atribuição do prémio foi justa, porque "Emmanuel Nunes é o compositor português de maior projecção nacional e europeia dos últimos trinta anos".
Nery lamentou apenas que "ainda se tenha que explicar quem é Emmanuel Nunes, já que é um compositor de referência, nomeadamente nas obras de vanguarda", sublinhando ainda que o papel desempenhado pelo galardoado, enquanto pedagogo, uma vez que considera que a sua actividade no ensino, "é extremamente importante".
A pianista Maria João Pires, até agora a única galardoada com o Prémio Pessoa no campo da música, classificou esta distinção de Emmanuel Nunes como "perfeitamente justa". "É uma pessoa por quem tenho muita admiração. É um grande compositor e um homem extrardinário. Emmanuel Nunes foi meu colega em composição. Estudei com ele, apesar de [eu] ser uma nulidade em composição", adiantou à Lusa a pianista.
Emmanuel Nunes manfestou-se muito honrado com a distinção e desejou "que independentemente do valor pessoal, o prémio sirva para chamar a atenção para a importância do desenvolvimento da música em Portugal".
No entanto, apesar da importância simbólica do Prémio Pessoa, Emmanuel Nunes adiantou que este não terá qualquer influência no futuro da sua vida profissional. "A minha vida é igual ontem, hoje e amanhã", disse o compositor.
O Prémio Pessoa é uma iniciativa do semanário "Expresso" e da Unyssis e é concedido anualmente desde 1987 a uma "pessoa de nacionalidade portuguesa que, durante esse período e na sequência de uma actividade anterior, tenha sido protagonista e inovador na vida artística, literária ou científica do país".

O "percurso iniciático" de Emmnuel Nunes

Emanuel Nunes nasceu em Lisboa a 31 de Agosto de 1941. O nascimento foi a "primeira etapa" da sua aprendizagem, o princípio de todo um percurso, que considerada "iniciático".
Tirou um curso de piano e solfejo aos 14 anos, e a aos 18 anos os seus estudos ficaram marcados por Francine Benoit. Seguem-se os cursos de Harmonia, Contraponto e Fuga, na Academia de Amadores de Música.
Fernando Lopes Graça, Henri Pousseur e Pierre Boulez são também personalidades que marcam, acompanham e influenciam o percurso de Emmanuel Nunes.
O compositor - que revela, segundo Pinto Balsemão, "um vigor exemplar e uma grande capacidade dramática" - trabalhou com Karlheinz Stockhausen, na Escola Superior de Música de Colónia e recebeu com Marcel Beaufils o primeiro prémio de Estética do Conservatório Nacional Superior de Paris, em 1971, local onde hoje ensina.
Muitas das suas obras - "Litanias do Fogo e do Mar", "Aura", "Quolibet", "Machina Mundi" e "Lichtung II" - foram realizadas por encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian, da Radio-France ou do Ministério da Cultura francês. São obras marcadas por universos espaciais, minimalistas e de pesquisa, procura e investigação das sonoridades electro-acústicas.
"Compor para mim, é o acto de fazer nascer algo que, uma vez gerado, deverá ter as melhores condições internas que lhe permitam viver. As obras têm que ter o carácter de seres vivos que vivam o que forem capazes de viver", afirmou Emmanuel Nunes à jornalista Diana Andringa, no documentário "Percurso Iniciático".

Marta Fernandes

Sugerir correcção
Comentar