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Morreu Otelo Saraiva de Carvalho

Tinha 84 anos.

Morreu Otelo Saraiva de Carvalho
Giorgio Piredda

O capitão de Abril Otelo Saraiva de Carvalho morreu, este domingo, no Hospital Militar, em Lisboa. Tinha 84 anos. Morreu a um mês de fazer 85 anos. O coronel de artilharia elaborou o plano de operações militares do 25 de Abril de 1974.

Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho nasceu em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, Moçambique, e teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.

No Movimento das Forças das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.

E foi ele um dos militares que esteve no quartel de operações no Regimento de Engenharia n.º 1, na Pontinha, nos arredores de Lisboa.

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Depois do 25 de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho foi comandante da Região Militar de Lisboa e do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC).

Nesses tempos, surgiu associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato às presidenciais de 1976.

Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril, organização armada responsável por vários atentados em mortes, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado anos depois.

Conseguiu "de forma genial derrubar a ditadura sem sangue"

O jornalista José Pedro Castanheira salienta que Otelo Saraiva de Carvalho foi o "principal autor do Golpe Militar que nos devolveu a liberdade".

Como exemplo, fala da criação de estações privadas como a SIC e a TVI e outros órgãos de comunicação como o Público e a TSF.

"A liberdade em Portugal deve-se aos militares que derrubaram a ditadura e a Otelo Saraiva de Carvalho. Foi ele que conseguiu, juntamente com um número muito grande de capitães e majores, de uma forma genial organizar o plano militar que conseguiu derrubar a mais longa ditadura da Europa na altura sem derramamento de sangue", afirma.

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"Foi uma nódoa muito grande" Otelo Saraiva de Carvalho ter sido líder da FP-25

O jornalista Henrique Monteiro salienta a importância de Otelo Saraiva de Carvalho no planeamento do 25 de abril de 1974, assim como de outros militares.

"25 de abril devemos a Otelo e a outros militares, a muita gente", diz.

No entanto, destaca a participação e liderança na FP-25. Apesar de ter sido amigo de Otelo Saraiva de Carvalho, diz que a liderança na organização "foi uma nódoa muito grande".

Henrique Monteiro salienta ainda que percebeu que o capitão de abril não esteve na origem da organização: "Foi arrastado". Considera-o ainda "talvez uma pessoa ingénua".

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Otelo Saraiva de Carvalho dizia: "Façam tudo, mas evitem qualquer tipo de violência"

O Coronel Rodrigo Sousa Castro diz que todos os capitães que trabalharam com Otelo Saraiva de Carvalho estão "chocados e tristes" com a notícia da sua morte.

Rodrigo Sousa Castro foi porta-voz do Conselho de Revolução a seguir à Revolução de Abril. "Foi ele que dinamizou, que elaborou a ordem de operações do 25 de abril, conta.

"Otelo era um homem bom", recorda, acrescentando que tinha um "bom coração".

Em direto na SIC Notícias, conta ainda que Otelo Saraiva de Carvalho sempre lhes disse: "Façam tudo, mas evitem qualquer tipo de violência".

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Otelo Saraiva de Carvalho "deixa o dia 25 de abril de 1974"

O jornalista Adelino Gomes realça que Otelo Saraiva de Carvalho "deixa o dia 25 de abril de 1974".

"É uma coisa que poucos se poderão orgulhar", afirma.

"É o dia de recordarmos Otelo e que foi um trabalho coletivo", diz, referindo-se ao 25 de abril.

Adelino Gomes recorda, na SIC Notícias, o seu trabalho como jornalista no 25 de abril.

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Otelo Saraiva de Carvalho tinha uma "coragem extrema, uma generosidade imensa"

Paulo Moura, jornalista do Público e autor da Biografia do Otelo Saraiva de Carvalho, na SIC Notícias, salienta as qualidades humanas do Capitão de Abril.

"Coragem enorme, extrema, uma generosidade imensa", diz.

Destaca ainda o seu papel na estratégia militar do 25 de abril: "Sem ele, provavelmente não tinha havido revolução".

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"Otelo é a marca do 25 de abril"

António Carneiro Jacinto, comentador SIC, afirma que Otelo Saraiva de Carvalho "é a marca do 25 de abril.

Diz que o conheceu pessoalmente, em várias entrevistas, "uma delas bastante dura".

"Era um tipo brilhante do ponto de vista de falar tranquilamente com os jornalistas. Sentia-se à vontade para defender os seus pontos de vista", diz, salientando a sua "modéstia exemplar".

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Teve um "papel fulcral em todo o processo político português"

Carlos Matos Gomes é um Capitão de Abril. Nasceu em 24 de julho de 1946 em Vila Nova da Barquinha e estudou no Colégio Nun'Alvares, em Tomar, onde conheceu Salgueiro Maia, de quem ficou grande amigo.

Carlos Matos Gomes diz que a morte de Otelo Saraiva de Carvalho representa "a partida do último elemento de um trio essencial no 25 de abril". Um trio, explica, constituído por ele, por Salgueiro Maia e pelo general Costa Gomes.

"Tem um papel determinante na questão da descolonização", acrescenta.

"Tem um papel fulcral em todo o processo político português. Uma figura muito difícil de encontrar na história europeia e de Portugal", diz.

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