Nascido do dia: Marx Stirner

Johann Kaspar Schmidt nasceu em Bayreuth, a 25 de outubro de 1806, filho de um fabricante de flautas, e morreu em Berlim, a 26 de junho de 1856, tendo sido conhecido como Marx Stirner. Filósofo alemão, muitas vezes considerado como um dos precursores do niilismo, do existencialismo, da teoria psicanalítica e do anarquismo.

Com vinte anos, entrou para a faculdade de filosofia, em Berlim. Assistiu às aulas de Hegel e de Feuerbach, que muito o influenciou. Por dificuldades de saúde da mãe, foi obrigado a largar o curso várias vezes. Conseguiu concluir em 1835, mas não obteve nenhuma vaga como professor de filosofia. Juntou-se ao “Clube dos Doutores” que daria origem ao círculo berlinense dos “Livres” (Die Freien), grupo que frequentou durante dez anos e que incluía jornalistas radicais, poetas e jovens hegelianos como os irmãos Edgard e Bruno Bauer, Arnold Ruge e Friedrich Engels.

A obra de Stirner O Único e a sua Propriedade (Der Einzige und sein Eigentum, que se traduz literalmente como o indivíduo e sua propriedade), publicado pela primeira vez em 1845 em Leipzig, e desde então com numerosas edições e traduções, foi imediatamente apreendido.

No lugar dos ideais de “liberdade”, “humanidade”, “moralidade” e “razão”, que animavam os agitadores liberais, Stirner defendeu a as prerrogativas do eu concreto e prosaico de cada indivíduo e criticou o autossacrifício da individualidade a causas e ideais abstratos, defendendo que  o eu único de cada um se tornaria livre proprietário de seu mundo pessoal. Durante décadas após a publicação, O único permaneceu esquecido, até ser considerado um texto fundador do anarquismo individualista na passagem do século XIX para o século XX.

Pobre, preso por não pagar as dívidas, Stirner viveu  anos difíceis; a situação melhorou um pouco depois da morte de sua mãe, quando recebeu uma pequena herança.

O que é que ganhamos ao transferir o divino, para variar, de fora para dentro de nós? Somos aquilo que é em nós? Tão pouco como somos aquilo que está fora de nós. … Justamente por não sermos o espírito que nos habita é que devíamos fazê-lo sair de nós: ele não era nós, não coincidia conosco, e por isso não podíamos concebê-lo como existente senão fora de nós, para além de nós, no além. Com a força do desespero, Feuerbach agarra conteúdo todo do cristianismo, não para jogá-lo fora, não, mas para trazê-lo a si, com o objetivo de, em um último esforço, retirar do céu aquilo que por tanto tempo ansiara e que sempre esteve tão longe, guardando-o para sempre dentro de si. Isto não é um gesto de extremo desespero, de vida ou morte? E não é ao mesmo tempo o anseio e o desejo cristãos pelo além? … E desde então não grita todo o mundo, com maior ou menor consciência, que o que importa é o “aquém” [ênfase no original] que o céu tem de descer à terra e ser vivido já aqui?

A linguagem ou “a palavra” nos tiraniza da forma mais cruel porque convoca todo um exército de ideias fixas contra nós. Agora, se te observares a ti próprio no ato de refletir, descobrirás que só progrides se a cada momento te livrares dos pensamentos e das palavras. … E só serás teu próprio por meio desta irreflexão (Gedankenlosigkeit), desta mal interpretada “liberdade de pensamento” [ênfases no original] ou libertação dos pensamentos. Só a partir dela chegarás a usar a língua como tua propriedade.

Ler:

Max Stirner

Crime e fruição: o egoísmo de Max Stirner como discurso de resistência contra a dominação?

Individualidade, liberdade e educação (Bildung) em Max Stirner

Autor: LN

LN é sigla de Lucília Nunes. Este blog nasceu no Sapo em 2001. Esteve no Blogspot desde 01.01.2005. Importado para Wordpress a 21.10.2007. Ligado ao FaceBook desde 13.12.2010 (e desligado em 2017).

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